by ATON
“Vinde
a mim todos vós que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de
coração; e achareis descanso para vossas almas. Porque meu jugo é suave
e o meu fardo é leve.”
Quando
lemos um texto evangélico, um ensinamento de Jesus, será que buscamos o
entendimento que ali está inserido ou simplesmente assumimos a
literalidade do texto sem uma reflexão mais acurada sobre o que a
passagem possa nos oferecer?
Kardec,
em o Evangelho Segundo o Espiritismo, nos coloca de forma contundente
que a nossa fé deve ser raciocinada. “A fé raciocinada, por se apoiar
nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê,
porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis
por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”
Em
assim sendo, vamos fazer uma reflexão sobre o que contém as palavras de
Jesus em Mateus, segundo o olhar científico, a respeito da dor, do
sofrimento, das dificuldades pelas quais passamos.
Eu me lembro de uma abordagem de uma palestrante espírita (1) em que ela contou a seguinte experiência.
Estava
em um congresso da área de saúde e, terminando o evento, alguns colegas
que por ouvirem ela falar da sua fé no Evangelho, desafiaram-na a
provar, cientificamente, que as palavras de Jesus eram verdadeiras
quando disse: “Porque meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Ela tinha
30 dias para trazer a solução a eles.
Quase
já terminando o prazo estipulado, ainda sem uma alternativa sob o olhar
da ciência, surgiu uma oportunidade de assistir à apresentação de um
trabalho sobre analgesia – controle da dor.
O
profissional, que apresentou o trabalho, comentou em determinado
momento que nós temos um “portal da dor” no nosso sistema nervoso. Esse
portal é comandado pelo cérebro, ou melhor por um das partes do nosso
cérebro, pois nosso cérebro é constituído de três partes (divisão para
fins didáticos) e, entre elas, o arquicórtex e o neocórtex. (2)
O
arquicórtex é a parte mais primitiva do nosso cérebro, a que gerencia
nossos mecanismos mais instintivos e primários ligados à autopreservação
e à da própria espécie, como também o medo e a raiva. Ali está o
controle de duas substâncias que, se ativadas, promovem o alívio da dor –
a endorfina e a encefalina.
Caso
nossa atividade mental fique concentrada na região do arquicórtex, há
menor produção dessas substâncias analgésicas e o portão de controle da
dor se abre e o indivíduo sente mais dor.
Caso
contrário, se nossa atividade mental – os impulsos elétricos -, na
região do neocórtex está mais intensa, há a liberação do sistema
analgésico central. Há uma diminuição da atividade elétrica no
arquicórtex, gerando maior produção de endorfina e encefalina, e o
fechamento do portão da dor.
O
neocórtex é a parte que tem evoluído à medida que evoluímos no
conhecimento, nas relações interpessoais, nas emoções como a
fraternidade, a confiança, o perdão, o amor. Oferece suporte nas
atividades cognitivas e voluntárias.
O
profissional então explicou que na medida em que utilizamos a parte
mais evoluída do nosso cérebro nós administramos melhor as dores do
corpo, sejam emocionais ou físicas. O Portal da dor se fecha.
No
entanto, quando nos conectamos com sentimentos como o medo, a mágoa, o
rancor, o Portal se abre e ficamos mais sensíveis ao sofrimento.
A
palestrante espírita, neste exato momento, percebeu que ali estava a
resposta que procurava. Quando nos conectamos com os ensinamentos do
Mestre Jesus nós também promovemos a conexão com o mundo através do
cérebro novo, aquela parte que tem evoluído conosco e, assim, temos o
nosso Portal da dor menos afeto ao sofrimento e à dor.
Por
consequência, as dificuldades que se apresentam a nós, sejam físicas ou
emocionais, são muito melhor administradas, nossas dores são mais
amenas e nos sentimos mais em condições de prosseguir na nossa jornada.
Diz-nos Joanna de Ângelis (3)
que emoções como a fraternidade, a confiança, a ternura, a bondade são
essenciais para uma boa harmonia do nosso corpo. Nós mesmos construímos o
nosso Ser de acordo com o nosso comportamento moral e mental.
O
Universo é resultado da Mente Divina. Nós somos cocriadores, como o
próprio André Luiz expõe em seu livro “Evolução em dois mundos”. Assim, o
que nos cerca é o resultado da nossa afinidade mental..
Pensamentos
negativos, autodepreciação, desequilíbrios emocionais são resultado de
mentes em desarmonia que, permanecendo nesse estado, promovem mais
desequilíbrios e reafirmam os pensamentos negativos e, por consequência,
vitalizam esse estado fortalecendo as energias desorganizadoras de que
se deveriam libertar.
Por
outro lado, quando nos mantemos em estado de alegria, realizações
edificantes, mantemos nossa sintonia com a ordem universal e somos
vitalizados com a energia pura e saudável que promana da ordem Divina.
Estamos
sujeitos a tudo o que ocorre à nossa volta. As forças mentais
existentes se transferem de mente a mente, desde que estejam vibrando na
mesma sintonia.
Precisamos
estar atentos ao tipo de pensamento que levamos conosco e
envolvermo-nos com irradiações elevadas buscando na oração as forças
necessárias para mudança do nosso padrão vibratório.
Somos
responsáveis pelo que pensamos, a que aspiramos, o que falamos e como
agimos. Respiramos a atmosfera que criamos à nossa volta. Vivemos de
acordo com as nossas irradiações. Quando elevamos nosso pensamento e nos
conectamos com planos mais nobres, assimilamos energia mais pura e
saudável.
Nós é que elegemos o tipo de envolvimento que queremos, e escolhemos o padrão vibracional com o qual fazermos contato.
O
conhecimento de si mesmo fortalece a capacidade de bem pensar e melhor
agir. Teremos, assim, mais controle sobre nossas ações, pensamentos e
sentimentos fortalecendo nosso caminhar nessa jornada terrena.
Nossas
forças mentais precisam estar mais em sintonia com Cristo-Jesus, cuja
existência sempre se pautou pela perfeita sintonia com Deus. Só assim
foi possível vencer e cumprir Sua missão entre nós.
Muitas
vezes vemo-nos com dificuldades da mais variada ordem e fixamos nosso
pensamento nessas experiências, seja pela dor física ou pelos desajustes
emocionais. Em fazendo assim, fortalecemos a vibração negativa
promovida por essas experiências e nos afastamos da conexão com energias
regeneradoras e revitalizantes que sabemos existir em planos mais
elevados. Usamos a parte do nosso cérebro, o arquicórtex, que administra
o comando químico no Portal da dor no sentido de abri-lo. Ficamos
sensíveis ao sofrimento, ao desânimo, à falta de confiança.
Precisamos
ficar atentos, pois esta é a hora em que devemos buscar a oração e,
através dela, o auxílio para o fortalecimento da nossa fé.
Quando
somos acometidos por doenças, muitas vezes ficamos desestabilizados e
angustiados em busca da cura física. Em acontecendo dessa forma, devemos
nos lembrar que esse tipo de energia só faz com que as conexões
físico-químicas sejam mantidas em nível inadequado à manutenção da nossa
saúde física e mental. Promovemos, inclusive, a agressão às defesas
imunológicas e desarticulamos mecanismos de equilíbrio que respondem
pela saúde.
Precisamos
sim buscar o cuidado com o nosso corpo, instrumento a nós oferecido por
Deus para que possamos cumprir nossos compromissos, visando nosso
aprendizado e restabelecimento do equilíbrio espiritual que promove a
nossa evolução como espíritos. No entanto, não podemos colocá-lo em
nível de importância superior à do espírito que é o nosso verdadeiro Eu.
Lembra-nos Joanna de Ângelis (4) que a saúde vai além da ausência de doenças.
A
fragilização do nosso corpo físico é um caminho natural pelo qual
devemos passar pela necessidade de superação através do nosso processo
de evolução.
A
saúde é o encontro com nosso verdadeiro Eu, em sua plenitude, tendo
consciência dos nossos compromissos. Nossa experiência de vida no corpo
físico está fundamentada em nos facultar a ampliação do nosso
conhecimento, superação de desvios comportamentais, elevação moral e
intelectual – autoconhecimento, reconhecimento dos erros,
arrependimento, perdão e autoperdão, expiação e reparação. O trabalhar a
superação de nossos desajustes não deve ser adiado.
Mesmo
que alcancemos a graça da cura de determinada doença física, pode
ocorrer que sejamos acometidos por outra. O que importa é encontrarmos a
nossa cura espiritual, tendo a consciência de que muitas das
dificuldades que enfrentamos nada mais são do que oportunidades de
aprendizado, fortalecimento da nossa confiança, desenvolvimento da nossa
capacidade de luta, conquista de novos patamares evolutivos.
Precisamos
compreender os acontecimentos e sobrepor a paz íntima às situações que
poderiam nos desestabilizar. Mais ainda, entregarmo-nos ao encantamento
das aspirações de enobrecimento, de beleza e paz. A alegria de viver
deve ser nosso estímulo, não obstante as dificuldades e limitações que
devamos enfrentar. A autossuperação permite alterar a paisagem do que a
vida nos oferece como oportunidade de elevação moral e espiritual.
É
imprescindível o auxílio da esperança. Joanna de Ângelis diz que essa
esperança estimula a coragem, a vibração mental positiva, de origem
superior, porque é o sentido da própria vida.
Vale
lembrar uma reflexão do pedagogo Paulo Freire. A esperança do verbo
esperançar e não do verbo esperar. Pois o verbo esperar remete ao
sentido de ficar parado aguardando algo, sem qualquer atividade. O verbo
esperançar significa promover uma mudança a partir do que se quer
encontrar, agir em direção a algo, ter um objetivo.
O
alívio ao nosso cansaço e à opressão que nos acomete pelas dificuldades
que enfrentamos está na confiança e fé nos ensinamentos de
Cristo-Jesus, nosso Mestre. Estando com Ele – nosso Caminho, verdade e
vida – sentimo-nos fortalecidos e encorajados a seguir nossa jornada de
autoconhecimento, de elevação do nosso padrão vibratório, de compreensão
e enfrentamento em paz e com alegria.
O
peso das nossas experiências por desajustes cometidos são amenizados,
por compreendermos a razão de eles terem surgido em nossas vidas, e
seremos gratos pelas oportunidades oferecidas no sentido de promover
nossa Harmonia com o Universo.
Caminhando
com Jesus e sendo mansos e humildes de coração, como Ele o foi,
encontraremos descanso para nossas almas – “porque meu jugo é suave e o
meu fardo é leve” -, pois teremos paz interior, confiança no Evangelho
que abraçamos, estaremos fortalecidos pela esperança do encontro com o
Pai no Mundo Celestial ao nos libertarmos de nossas fragilidades e
desvios cometidos ao longo de nossas vidas – alcançaremos a purificação
do nosso Espírito.
Joseph Gleber, em o livro “Medicina da Alma”(4)
compara o processo do sofrimento e da dor com o esforço que o verme
empreende para vencer os obstáculos desde as entranhas da terra em
direção à luz dos raios solares. Assim somos nós, vencendo as
dificuldades que nos surgem na busca pela luz dos raios da compreensão,
compaixão, do amor, da proximidade cada vez maior do exercício do
Evangelho em nossas vidas.
Não
nos devemos sentir desanimados por, no mais das vezes, verificar serem
ainda frágeis nossas forças nessa busca pela elevação moral e
espiritual. O Cristo conhece nossas potencialidades e nos aguarda. Ele
nos auxilia nessa caminhada em busca do caráter, do amor, da fé,
paciência e esperança, conquistas para a vida eterna.