O
ALICE, ACORDA.....uma reflexão para todos NÓS, ''''ALICES''',
ADORMECIDOS.( POR ISSO , QUE MEU ALTER-EGO, É O GATO, RISONHO, E EU
( ATON ) SEMPRE PINTO , ELE, FELIZ)
ALICE,
NO MEU LIVRO DE VIDA( Filosofia do amor de Colibri), É A BORBOLETA, SEM
NOÇÃO...que ama perdidamente, o COLIBRI, mas tem cíúmes de sua
liberdade e leveza. RE - CONECTANDO A LUZ DA VERDADE.
A descoberta da identidade em “Alice no país das maravilhas”
Alice: Estou caindo num buraco escuro... Então vejo criaturas estranhas. Será que estou ficando maluca?
Pai de Alice: Eu acho que sim! Você está maluca, pirada, perdeu um
parafuso... Mais vou lhe contar um segredo: as melhores pessoas são
assim.
Um conto de fadas e uma história para crianças, foi assim
que a obra “Alice no país das maravilhas” foi vista na época de sua
criação. Escrita na segunda metade do século dezenove por Lewis Carroll
(pseudônimo de Charles Dodgen), matemático inglês que escreveu livros
questionando a lógica das coisas, a história conquistou com o passar do
tempo o interesse do público em geral, interpretações e análises de
cunho psicológico e sociológico. Invadiu a mídia e os cinemas com
desenhos e filmes, incluindo a última versão (2010) do diretor Tim
Burton, conhecido pelo caráter excêntrico de seus filmes. O filme é
considerado a quinta maior bilheteria da história do cinema superando a
receita de 1 bilhão e 300 milhões de dólares, segundo os estúdios do
Walt Disney.
Em “Alice no país das maravilhas”, Carroll questiona
os padrões sociais estabelecidos na aristocracia da Inglaterra do
século dezenove: a Era Vitoriana. Período marcado por valores rígidos,
pela moral absoluta e pelo puritanismo.
O desenho, também
produzido pela Walt Disney (1951), mostra a entrada de Alice na
adolescência e os questionamentos recorrentes. Já o filme dirigido por
Burton se passa 13 anos após a história original e mostra a continuação
da jornada de Alice (agora com 19 anos), a sua entrada na fase adulta, a
insatisfação com a realidade, a busca pela identidade e os
questionamentos com relação aos padrões sociais da época.
Alice é
uma garota que busca independência, mas não sabe equilibrar a busca
pela realização de seus sonhos com as exigências sociais. Nesta versão
sua mãe a incentiva a realizar um casamento arranjado para que a família
possa ter estabilidade financeira e prestígio social. Prestes a ficar
noiva, no momento do pedido de casamento, Alice foge e se depara com um
velho conhecido: o coelho branco.
Ao segui-lo cai em um buraco
que a leva ao país das maravilhas, mundo em que tudo o que ela pensa
acontece e nada é impossível (inconsciente). Ao realizar uma análise
psicológica dos personagens e do cenário do filme, percebe-se que o
coelho carregando um relógio pode simbolizar o tempo, rígido e exigente,
marca a quebra com a realidade tal como é conhecida por Alice. Já o
buraco pode representar a passagem para o inconsciente.
No buraco
os objetos estão voando, desordenadamente e alguns estão de ponta
cabeça, demonstrando o quanto o inconsciente pode ser confuso, não
apresenta lógica, ordem ou racionalidade.
No país das maravilhas
ela se depara com o caos (que representa a destruição de elementos
importantes da infância e da adolescência e o período de crise de
identidade em que se encontra). Não se recorda de ter visitado o país
das maravilhas na infância e não consegue falar sobre si quando
questionada pelos demais personagens. Dessa forma, é vista como uma
possível impostora, como uma falsa Alice (falso-self).
Ela
reencontra alguns personagens (elementos inconscientes de sua infância)
como o Chapeleiro Maluco, a Lebre de Março, o Gato Risonho (Cheshire
Cat), os gêmeos Tweedledee e Tweedledum, o Absolem (a Lagarta) e a
Rainha Vermelha (Rainha de Copas - Iracebeth). Também conhece novos
personagens como a Rainha Branca (Mirana), o Valete de Copas, o
Jaguadarte (monstro), entre outros.
A Rainha Vermelha pode
representar a luxúria, também percebida no personagem Valete de Copas.
Já as rosas vermelhas e os corações, a paixão, elementos que podem
marcar o fim da inocência da infância. A monarca também pode representar
o superego intransigente, a consciência social e a figura materna de
Alice, mulher patriarcal que apresenta idéias rígidas e repetitivas
(“Cortem-lhe a cabeça” / Idéias de Casamento). Além disso, impõe dogmas e
crenças a todos que estão à sua volta. Demonstra ter uma personalidade
narcísica, instabilidade emocional e o tamanho de sua cabeça é
proporcional à sua necessidade de controle e à quantidade de idéias
manipuladoras.
Como resultado de sua tirania, ocorrem rebeliões
(“Abaixo a tirana rainha vermelha”), as relações se tornam objetais,
baseadas no medo (“É muito melhor ser temida do que amada”) e falsas,
pois para agradar a rainha as pessoas utilizam grandes narizes, orelhas e
barrigas de plástico.
Já a Rainha Branca, irmã caçula da Rainha
de Copas, é a bruxa que desafia o estereótipo de bruxas vestidas de
preto e más. Ela pode simbolizar a magia, a fantasia, o feminino, a
sutiliza, a luz e a alegria, não submetidos à lógica patriarcal. Porém,
ela conserva alguns elementos sombrios da histórica idéia de bruxas, a
maquiagem preta e os ingredientes fúnebres das poções. O seu produto
(poção) apesar de envolver aspectos negativos, como dedos de pessoas
mortas (“dedos amanteigados”), é percebido como algo bom, positivo e que
propicia equilíbrio. É importante notar que a Rainha Branca foi posta
de lado pela Rainha Vermelha, porém não foi destruída e apesar de
proteger Alice, seus motivos não são totalmente altruístas.
O
personagem Absolem (a Lagarta), representa a busca por conhecimento, as
dúvidas e a transformação do sujeito. A Lebre de Março refere-se ao mês
do cio das lebres, representa os impulsos sexuais e agressivos, a
ansiedade, os comportamentos compulsórios e paranóicos. Os gêmeos
Tweedledee e Tweedledum representam a infância, doces, porém não
compreendidos pelos adultos. O Gato Risonho representa o medo e a
covardia, nem sempre percebidos devido à presença de uma postura
cativante (longo sorriso), sedutora e despreocupada.
Já o
Chapeleiro Maluco pode ser louco por causa de uma substância alucinógena
(mercúrio) usada na fabricação de chapéus. Ganha destaque no filme,
pois representa o lado verdadeiro, criativo (com seus passos de dança) e
excêntrico de Alice. Estas características são reforçadas por sua
figura paterna, percebida como visionária, empreendedora e que quebra
paradigmas. O Chapeleiro também demonstra como a criatividade é
relacionada à loucura, ou seja, idéias criativas podem ser percebidas
como loucas pela sociedade. Boas idéias surgem a partir da criatividade
do ser humano, porém é difícil defender ideais e objetivos quando a
sociedade os considera manifestações de insanidade. Assim, durante o
filme, o Chapeleiro demonstra sua raiva diante da prevalência dos
princípios patriarcais e precisa do suporte de Alice para recuperar o
equilíbrio.
A ausência de equilíbrio fica evidente em uma das
cenas clássicas da obra: O chá de des-aniversário. A Lebre e o
Chapeleiro tomam chá (o famoso chá inglês) para comemorar o dia de não
aniversário. Fazem isso há tanto tempo que já não sabem o motivo. Logo,
todos os dias podem ser dias de tomar chá e comemorar. Dessa forma,
nota-se a crítica do autor aos comportamentos, percebidos como
“naturais” e que deixam de ser questionados com o tempo.
Durante
sua jornada Alice faz amizades e seus “novos” antigos amigos (incluindo o
Chapeleiro) são aprisionados pela Rainha Vermelha. Para recuperar a sua
subjetividade (representada pelos personagens e pelo país das
maravilhas) e o equilíbrio psíquico para seguir em seu desenvolvimento,
Alice precisa se conhecer, saber quem ela é e desenvolver a confiança em
si mesma, além de tomar decisões que influenciarão a sua vida e a de
todos a sua volta.
Neste novo desafio ela terá que lidar com
dificuldades (será esticada e reduzida) e contará novamente com
instrumentos como as poções para encolher e os mágicos bolos que a
alongam (é preciso comer para crescer), elementos que representam as
questões envolvidas no crescimento / desenvolvimento. E apesar de todas
as dificuldades a personagem busca se superar, mudando seu tamanho para
ultrapassar os obstáculos.
Para conseguir salvar o país das
maravilhas, Alice precisa escolher enfrentar o seu maior desafio, o
monstro Jaguadarte, percebido como a face feia e forte da consciência
social, que tenta moldar, julgar e destruir a criatividade. Todos à sua
volta esperam que ela mate o monstro e cumpra com o seu destino. Mas
para isso, ela precisa saber quem ela é, descobrir sua identidade, ser a
verdadeira Alice.
É diante da Rainha Branca que Alice encontra
suporte e o seu tamanho adequado (nem reduzida, nem alongada /
inflacionada). Na terra da Rainha Branca ela percebe que não pode viver
sua vida para agradar os outros, ou seja, as escolhas precisam ser dela,
pois apenas ela terá que lidar com as conseqüências. A batalha acontece
em um tabuleiro de xadrez, que simboliza a vida e necessita estratégia,
tomada de decisões e discriminação.
Quando Alice escolhe
enfrentar o monstro com a espada (que representa o pensamento
discriminativo), consegue descobrir sua identidade. Ser Alice significa
ser quem ela sempre foi, mas esqueceu, pois a sociedade diz às pessoas
como elas devem ser e se comportar. A personagem representa a mulher do
século XXI quando decide ir para a China investir em sua vida
profissional e em seu potencial ousado e empreendedor (simbolizado pelo
personagem Chapeleiro Maluco) ao invés de aceitar os papéis sociais
tradicionais de esposa e mãe. O casamento é representado pela personagem
da irmã de Alice, que é traída pelo marido. Logo, o filme demonstra que
o casamento, objetivo de vida de algumas pessoas, como a personagem da
tia de Alice, pode não ser tão positivo como a imagem que a sociedade
busca transmitir.
Por fim, durante o filme Alice passa por um
período de quebra da realidade tal como é conhecida por ela. Em contato
consigo mesma encontra forças para conseguir lidar com as dificuldades e
com as exigências sociais e assim reorganizar-se psiquicamente. Ao
enfrentar seus medos sente-se livre para dizer não aos papéis sociais
tradicionais e livre para seguir sua vida de forma única e
individualizada. Assim, consegue fazer escolhas com autonomia, perceber
suas potencialidades e acreditar nelas (“A única forma de chegar ao
impossível é acreditar que é possível”).
Adpt.
by ATON